Mariano Lopez, presidente da SAD e do clube Ac. Viseu, apresentou à Imprensa nacional, em Lisboa, o projeto desportivo, de formação e de responsabilidade social a que se propõe, num compromisso de longo prazo com uma região “que tem tudo”. No plano desportivo, anunciou Vítor Martins como treinador da equipa profissional, apresentou novidades para a formação e confirmou ainda a aposta no futebol feminino – que se estreia na próxima temporada no terceiro escalão
O líder da SAD do Académico de Viseu, eleito também presidente do clube em junho, Mariano Lopez, apresentou hoje à Imprensa nacional, em Lisboa, as linhas estratégicas do projeto desenhado para o maior emblema da região de Viseu. A par da ambição desportiva, que passa pela subida, estabilidade no primeiro escalão do futebol português e qualificação para as provas europeias, Mariano Lopez destacou a formação de jogadores e a responsabilidade social como pilares de uma estratégia que, por “razões óbvias”, só podia ser implementada em Viseu.
“O projeto do Ac. Viseu começou com uma análise da história do futebol em Portugal, uma análise desportiva, económica e geográfica, para entender as diferenças entre o litoral, o norte e o interior. A decisão de investir neste clube tornou-se clara, não queríamos mais um clube no litoral, por motivos óbvios. Viseu é uma cidade que tem tudo, tem uma qualidade de vida alta, mas sobretudo gostamos muito da forma como são as pessoas no interior, humildes, trabalhadoras, pessoas que gostam de esforçar-se ao máximo, com uma mentalidade que está muito alinhada com os valores que defendemos”, afirmou.
“Começámos este projeto com a compra da SAD em 2021. É um projeto global que vem de trás, com um grupo e aliança de clubes, que tem o apoio do dono do Hoffenheim, e que inclui também um projeto no Brasil, um clube de formação em Santa Catarina onde estamos já há 10 anos. O Ac. Viseu é uma peça-chave para o desenvolvimento deste projeto, mas é um projeto individual, sustentado. Ou seja, esta ligação não acontece no sentido existirem clubes satélites. Cada projeto é separado”, garantiu.
Mariano Lopez lançou depois a estratégia. “É um projeto para subir, sempre para subir, esse é o objetivo do investimento, mas também é importante para nós formar e educar jovens. Os pilares do projeto são vários e a formação é um deles, para nós é muito importante formar jovens, transmitir valores. Queremos também juntar a sociedade de Viseu, a região, porque o projeto desportivo só funciona quando há identidade com a região e acompanhamento de sócios e adeptos” destacou.
O líder da SAD e do clube destacou a “transformação digital” que já foi iniciada. “Tivemos a honra de apresentar esta aposta no Summit da Liga, no ano passado, em novembro. Estamos a finalizar a primeira fase de implementação, com novo site e aplicações, registo de sócios online, formas de pagamento por MBWay, soluções que provavelmente são normais nos clubes grandes, mas que no Académico não existiam”, explicou. “Temos mecanismos de atendimento inovadores, ou um projeto de Inteligência Artificial, como forma de análise de rendimento de jogadores na formação.”
Responsabilidade social, Europa e infra-estruturas
Além da dimensão desportiva e da inovação, Mariano Lopez deu grande ênfase à questão da responsabilidade social. “Este é um elemento muito importante para nós, aqui, na Alemanha ou no Brasil. Apostamos muito na ligação com a sociedade, seja com escolas, seja com famílias em escassez de recursos, seja com associações e instituições de solidariedade social ou de apoio a desabilitados.”
Fazendo um resumo desportivo das últimas duas temporadas e reiterando que o objetivo, agora, passa sempre por “atacar a subida de divisão”, Mariano Lopez mostrou toda a ambição. “Queremos atacar a subida, obviamente depois queremos ficar na Primeira Liga, mas o sonho grande é vir a ter um dia o Ac. Viseu nas competições europeias. Começámos a última temporada com dificuldades, mas continuámos tranquilos e confiantes. Tivemos depois uma fase muito boa. O regresso ao Fontelo e ao mapa do futebol português, com a presença na Final Four da Taça da Liga, foi obviamente para a cidade e para os adeptos mais um argumento para acreditar no projeto”, afirmou.
Mariano Lopez lembrou que não é habitual um investidor “salvar um clube”, ou “tomar conta da formação”, mas estas decisões inscrevem-se no compromisso de “responsabilidade social”. “Por isso apresentei também a minha lista para a presidência do clube. Com muita honra tentarei, portanto, nos próximos anos, levar o clube a uma fase mais estável”, reiterou.
O dirigente relevou ainda o “desafio ao nível das infra-estruturas”. “Qualquer projeto de futebol depende muito das infra-estruturas. O Fontelo necessita de uma reforma. Como investidor e presidente estou agora a perceber como é a burocracia em Portugal, um elemento a aprender, mas estamos em conversações com a Câmara Municipal de Viseu e esperamos em breve poder acelerar a modernização do estádio. Não é comum um investidor fazer um investimento de 600 mil euros numa infra-estrutura que não é própria, mas estamos aqui parar ficar”.
O anúncio do treinador Vítor Martins e o mercado
Mariano Lopez anunciou ainda novidades para o futebol de formação e equipa profissional. “Estamos a restruturar completamente o clube. Estamos a criar uma estrutura nova no futebol de formação, com muitas pessoas e treinadores novos. No comando vai estar o Luís Fonseca (que chega do Benfica), que vai ser o coordenador da formação do Académico de Viseu. Estamos muito felizes por tê-lo cá. Aliado a isso, temos o Sérgio Fonseca que subiu a nossa equipa de sub-19 ao Campeonato Nacional, e que vai ter o desafio de criar uma equipa para disputar a competição. No escalão dos sub-23, em que nos estrealmos, já temos fechado o Nuno Braga, que foi treinador no Vizela, na temporada passada, um técnico jovem com 34 anos. Finalmente, a equipa profissional vai ser treinada por Vítor Martins, também um treinador jovem, com o mesmo ADN que nós temos. É jovem, quer aprender, tem uma noção muito boa do futebol, com uma ambição incrível. E percebeu no primeiro momento, na nossa primeira conversa, o nosso projeto.”
Sobre o mercado de jogadores, Mariano Lopez destacou a necessidade de investir “de olhos abertos”, potenciando os bons contactos em diversos países, como a Alemanha. “Nunca vai ser regra trazer jogadores de um só clube. À medida que o clube tiver mais visibilidade, podemos mostrar aos jovens que podem evoluir e ter uma carreira aqui”, afirmou, continuando: “Interessa a forma como desenvolvemos os jogadores, ter treinadores jovens que percebam o que nós queremos fazer. A forma de treinar e de jogar do Académico vai ser diferente. A ligação com os sub-23 e outros escalões é importante. Temos de trazer ao clube os melhores jogadores da região, bons jogadores nacionais. Temos o plantel de sub-23 quase fechado, estamos a assinar os primeiros contratos de formação desportiva, que também não existiam. Parece-me que temos muito jovens que gostam da cidade, do Académico e do projeto”, relevou.
Sustentabilidade e compromisso de longo prazo
Questionado sobre o nível de compromisso com o projeto, nomeadamente, caso o sucesso desportivo e o retorno não seja o pretendido, Mariano Lopez foi muito claro. “O objetivo do projeto é sempre procurar sustentabilidade financeira e desportiva. Nós temos paciência, porque sabemos o que queremos. Os adeptos têm menos paciência que nós, como é evidente, faz parte do futebol. Na nossa ideia é importante desenvolver e valorizar meios, é a meta de qualquer projeto desportivo, mas também queremos reinvestir parte do lucro neste projeto. Nós estamos aqui no Académico a médio e longo prazo, não para entrar, valorizar e sair. O nosso projeto não é comparável com o que tem acontecido em Portugal. O retorno depende muito do sucesso desportivo, e depois de uma estrutura com condições, um estádio que consiga trazer adeptos, e que possa ter quatro, cinco mil pessoas. Queremos ter também condições de treino. Temos um protocolo com a Associação de Futebol de Viseu, que nos ajuda muito, com condições de treino profissionais. Tudo isto faz parte da valorização do projeto. Os adeptos acreditam, muitas pessoas estão à espera do que pode acontecer com o Académico. Nós temos patrocinadores e parceiros da região de Viseu, que nos vão ajudar e acho que vamos contribuir muito para a região”, assinalou, reforçando: “Não vou desistir até levar a equipa à primeira Liga. Será neste ano? Vamos ver. O futebol português é como nos outros países, depende do trabalho, da sorte e do azar. Estamos confiantes que em um ou dois anos estamos na Primeira Liga. O quanto antes, melhor”.
Pré-temporada na Alemanha e Futebol Feminino
Mariano Lopez confirmou que a pré-temporada da equipa profissional será na Alemanha. “É outra coisa que não é normal em Portugal. A ideia é o alto rendimento, que se consegue quando todos estamos fora da zona de conforto. E sair de Portugal traz-nos isso”, adiantou, deixando depois um comentário geral sobre o futebol português. “Gosto muito da formação. A maneira como lutam dia-a-dia, como se dedicam ao clube e à modalidade é impressionante. Creio que o que falta é uma cultura nova para os adeptos. Gostava de trazer uma nova cultura aos adeptos ao Académico, uma nova geração de adeptos, que querem ver futebol, vir ao estádio em família e conviver. Um pouco como é na Alemanha”, referiu.
Por fim, confirmou ainda o arranque do futebol feminino, já na próxima temporada, com uma equipa amadora no terceiro escalão nacional, bem como escalões de formação. “Vamos integrar uma nova secção na próxima temporada, que é o futebol feminino. Vamos criar dois, três escalões, com uma equipa sénior amadora. A decisão estava preparada para a próxima temporada, mas vamos começar já.”
Comunicado de Imprensa
20 de junho de 2023