Em Tondela, onde a proximidade das Serras faz ressoar histórias de rivalidades antigas, os Viriatos de Viseu entraram em campo com a força da crença e o peso da história. Esta noite, envolta em emoções que transcenderam o futebol, trouxe consigo uma prova mais árdua do que podíamos imaginar.
Naquele João Cardoso, as cores dos dois rivais misturaram-se no tributo aos verdadeiros heróis, os bombeiros, que combateram as chamas impiedosas nos términos do último verão. Porém, no relvado, as chamas da batalha eram outras — o Tondela, firme, intenso, forjou a sua vitória nos detalhes cruéis do jogo. A bola parada, aos 18 minutos, desenhou o primeiro golpe pela cabeça de Ricardo Alves. E antes que o Académico pudesse recuperar o fôlego, o segundo golo caiu como um relâmpago, um raio de imprevisibilidade que fez Gril escorregar e deixou Roberto a celebrar o 2-0.
Ainda assim a resiliência, essa constante no espírito dos Viriatos, não tardou a emergir. Com as linhas mais subidas, e com o recém-entrado Gautier a abrir caminhos pela esquerda, o Académico resplandeceu por um momento. Um cruzamento violento, um cabeceamento certeiro de Yuri Araújo, e a esperança, essa força inquebrantável, renasceram. Os adeptos academistas, com os corações de preto e branco aos saltos, vibraram como se o próprio destino lhes pertencesse de novo.
No entanto, o futebol, esse jogo de caprichos e reviravoltas, trouxe mais um obstáculo. Um penálti, uma decisão amarga, e o terceiro golo tondelense após mão na bola de Aidara. Pedro Maranhão mostrou para onde ia e atirou à sua esquerda. O jovem Gril adivinhou, mas defendeu para dentro.
Ao intervalo, a Serra parecia mais alta que nunca, mas os comandados de Rui Ferreira sabiam como entrar no segundo tempo. Voltaram com renovada energia e foi Clóvis, aos 52 minutos, quem quase reacendeu a chama com um remate poderoso. Depois, Famana, mesmo em frente aos seus adeptos, fez tremer a baliza e, por um segundo, o impossível pareceu tangível. Mas a trave, impiedosa, negou-nos o palpitar do 3-2.
Mesmo com o Académico a lutar, a desvantagem numérica após a expulsão de Aidara trouxe de novo o peso do jogo. Aos 83 minutos, Pedro Maranhão fechou o marcador, e a derrota, por 4-1, instalou-se como um fardo nas costas dos viseenses.
Porém, é nestes momentos que costuma germinar a lição mais profunda. O Académico de Viseu, clube de alma resiliente, sabe que a resposta não se encontra no que foi perdido, mas sim no que há por ganhar. Esta é uma derrota que dói, sim, mas que deve ser enfrentada com a mesma coragem que até aqui nos trouxe.
No próximo sábado, no calor da batalha de Felgueiras, devemos responder. Aos nossos bravíssimos academistas, fica o apelo e a gratidão: continuem a empurrar esta equipa, pois na união das vozes de Viseu, reside a nossa força. O vosso apoio incansável, levar-nos-á ao regresso às vitórias.