No coração de Viseu, onde os ventos da paixão pelo futebol sopram fortes, o Estádio do Fontelo foi palco de um emocionante jogo, no qual Académico de Viseu e UD Oliveirense escreveram versos de luta, num duelo que desafiou os limites do tempo e da bravura.
Perante mais de 1200 fiéis academistas, os Viriatos ergueram a sua muralha, pressionando desde o primeiro instante, como guerreiros decididos a conquistar território. Miguel Bandarra, com um livre magistral aos 22 minutos, desafiou os céus com um grito de golo, apenas detido pelas mãos do guardião Arthur Augusto. 10 minutos depois, André Almeida esteve por duas vezes seguidas muito perto de inaugurar o marcador. Primeiro o poste direito da baliza aveirense, e depois Guilherme Soares, evitaram que de novo livre surgisse o primeiro tento da manhã. Terminavam os primeiros 45 minutos, onde faltaram os golos para fazer jus ao que se jogava em campo.
Como sabemos, a sina do herói é marcada por momentos de glória e de adversidade. No iníco da etapa complementar, André Almeida, numa dança infeliz com o destino, recebeu o vermelho aos 48 minutos, após um lance infeliz onde entrou tarde sobre o jogador forasteiro. Contudo, os verdadeiros guerreiros não se dobram perante o infortúnio. O eco dos aplausos acompanhou-o na sua retirada, como uma homenagem ao sacrifício pelo bem maior. O golpe imediato da UD Oliveirense, foi como um raio que cortou o céu límpido. Kelechi, na sequência desse livre, desafiou a ordem estabelecida durante a primeira parte, marcando o primeiro tento.
Cientes da missão em mãos, os beirões não viraram costas à luta, e responderam como só um Viriato sabe fazer: rápida e impetuosamente, como um trovão que ecoa nos vales da memória. Nem um minuto volvido, Gautier, o arquiteto do renascimento, encontrou Clóvis, o poeta da grande área, que com um toque divino de primeira, apareceu ao segundo poste e devolveu a esperança aos corações viseenses.
Longe da batalha cessar, os desafios tornavam-se ainda maiores, com a desvantagem numérica a pesar como uma corrente de ferro. Schürrle, o intruso, aproveitou uma brecha à entrada da área academista e, num remate de ressaca, desferiu um duro golpe que gelou os ânimos nas bancadas. O relógio contava 66 minutos.
Entretanto, as substituições trouxeram novas forças para os 11 Viriatos em campo. Arthur Chaves, Samba Koné, Steven Petkov e Martim Ferreira foram como reforços frescos, prontos para desafiar esta manhã que não nada queria connosco. E foi então que André Clóvis, o herói provável, emergiu das sombras para desenhar a sua obra-prima. Em cima dos 90, recebendo a bola como um presente dos deuses, lançou-se entre os defensores, rodopiando como uma estrela cadente antes de fulminar a baliza. O bis do canarinho ressuscitou o Fontelo, que via sete minutos de compensação serem mais que suficientes.
Num pressing final, o Académico não foi capaz de marcar novamente. Num êxtase de emoção, o estádio tremeu com a esperança dos três pontos. O tempo, implacável, marchou inexorável até ao apito final. Fica na cabeça que, se mais uns minutos houvesse, teríamos chegado à reviravolta. Mesmo com um guerreiro a menos, este emblema ergueu-se como um colosso, garantindo um ponto na luta que é o futebol. Seguimos juntos.