Numa sociedade dominada pelo capitalismo, a burguesia será o setor que, na gíria, faz circular o “esférico” da riqueza, controlando a “posse de bola” das diversas parcelas da indústria. Trocado por miúdos, os burgueses são conhecidos por serem os “Donos Disto Tudo”, os líderes da “tabela classificativa” social, que trabalham arduamente para conquistar o seu lugar. E é exatamente com essa mentalidade (que nunca deve descorar a humildade), com a qual o Académico de Viseu terá de entrar em campo, na casa do Lusitânia de Lourosa Futebol Clube.
À espera dos corajosos viriatos, que se estreiam este domingo na prova rainha do futebol português, estará uma equipa, um estádio e uma massa adepta, que prometem dificultar ao máximo a tarefa viseense em Lourosa. Na verdade, no nosso caminho está uma equipa de um escalão inferior (Liga 3), mas tendo em conta a competitividade e ritmo a que se joga esse patamar, aliados à qualidade do adversário e às características presentes nos genes da Taça de Portugal, este é um encontro de “alto risco”.
Quem de Viseu olhar para o Lusitânia, pensando em “favas contadas”, saiba desde já que está inteiramente enganado. Taça que é taça, é pródiga em surpresas, principalmente quando se entra em campo de “pés no céu”. Há também que saber fazer a distinção entre ser confiante, e agir sem humildade, dado o facto de que a linha que separa estes dois estados emotivos, é muito ténue. O que se pretende é entrar com o rosto levantado, tendo a noção da responsabilidade que acarreta ser favorito, sem medo de envergar esse “fardo” às costas. Não há que negar essa posição, mas sim prová-la dentro de campo.
Historicamente há um fator motivacional, que promove ainda mais a vontade de vencer esta eliminatória: analisando os confrontos diretos, o Académico de Viseu nunca venceu o Lusitânia de Lourosa. Se este é um fator importante para a partida, também é verdade que as únicas seis ocasiões em que se defrontaram, datam todas entre as épocas 1964-65 e 1971-72. Portanto, este é um confronto histórico, mas que não conhece um “remake” há várias décadas. São, em absoluto, quatro empates e duas vitórias nortenhas. Para quem desconhece, o estádio dos lusitanistas é uma referência no que toca ao seu fervoroso ambiente, proporcionado pelos adeptos aguerridos. Ainda assim, da capital da Beira Alta, parte um conjunto de jogadores e de adeptos, mais que capazes de fazerem face às difíceis condicionantes que se apresentam no horizonte. Quebrar o enguiço é, portanto, a mensagem de ordem na estreia academista na Taça de Portugal.
Esta é uma prova na qual o Académico de Viseu tem um importante legado a defender, principalmente num passado recente. Será a 62ª presença da turma beirã na prova rainha, competição onde chegou, por cinco vezes aos oitavos de final, por duas ocasiões aos quatros de final, e por uma vez (em 2019-20) às meias-finais. Nos últimos quatro anos, só por uma vez os academistas não chegaram aos oitavos de final, dado que eleva naturalmente as expectativas.
No próximo domingo, o futebol tem um cheirinho diferente. A bola, os intervenientes, as regras e os espectadores são os mesmos, mas o sabor da Taça traz às nossas pupilas gustativas um novo sabor, totalmente diferenciado de qualquer outro. O bota-fora desta competição é um aliciante, tal e qual como o embate entre equipas de diferentes escalões. A oportunidade de uns serem tomba-gigantes, é a mesma para outros evidenciarem, na prática, a sua superioridade teórica.
Que comece a verdadeira festa do futebol português.