Que jogo. A partida cabeça de cartaz da segunda jornada da Liga Portugal SABSEG, trouxe emoção, bons golos, uma rivalidade histórica envolta em fair play mas, acima de tudo, uma divisão de pontos que sabe a muito pouco para os lados viseenses.
Vamos então a esta crónica de resumo, com vista à ilustração perfeita de tudo aquilo que se jogou no Estádio João Cardoso, em Tondela.
Se não fosse o mister Vítor Martins a avisar na conferência de antevisão, talvez tivessem ficado os adeptos algo surpreendidos, com o clima de “encaixe” que o jogo viveu na sua fase primordial. Duas equipas com vontade, mas totalmente entrelaçadas no meio-campo, ainda que com um ligeiro sinal mais dos viriatos. Poder-se-á dizer que entre os 10 minutos e os 40, a partida vestiu-se de bordô (cor com que entrou o Académico de Viseu em Tondela), dada a superioridade que os viseenses conseguiram impor a pulso, no ritmo com que seguia o dérbi da Beira. O primeiro sinal de perigo surgiu dos pés de Gautier que, numa excelente jogada de insistência na esquerda do ataque, quase mexeu o marcador com um remate que acabou por sair ao lado. Com o caudal ofensivo dos viriatos a aumentar, a derradeira oportunidade de abrir o livro de histórias viseenses chegou aos 23 minutos. É caso para dizer que o trabalho em equipa é tudo, senão leia: Miguel Bandarra (em estreia a titular) entrou no meio campo ofensivo no lado direito da defesa, projetando o esférico para Rodrigo Pereira; o jovem ponta de lança recebeu de costas para o ataque, mesmo perante a pressão contrária, devolvendo ao lateral academista que, com um passe desconcertante e a rasgar totalmente a defesa tondelense, isolou Famana Quizera; o mágico número 10 olhou para a baliza e não tremeu, fazendo o seu primeiro golo na temporada e soltando a festa das centenas de adeptos do Académico presentes no estádio. Estava feito o 0-1.
Não se pode negar que o carimbo do equilíbrio, foi aquele que marcou com mais força este jogo, mas até ao minuto 40 (como dissemos há pouco), foram praticamente nulas as aproximações à baliza de Domen Grill. Após Gautier ter mais dois remates perigosos que ameaçaram o 0-2, do outro lado Costinha desatou o ótimo nó que os viriatos faziam até então ao ataque da casa. Com um potente remate de fora da área, o número 11 do Tondela restabeleceu o empate no encontro, sem que a turma visitada tenha feito muito para tal. Mas isto é futebol, e ao futebol pertencem os grandes golos, os autogolos, os foras de jogo e até as decisões que nos possam causar as maiores dúvidas do mundo. Para o que interessa do espetáculo, todas estas situações estavam ainda por acontecer no João Cardoso.
A primeira delas chegou ao minuto 45+4. Num lance onde não parecem existir muitas dúvidas, no que toca à normalidade dos toques entre os jogadores de ambas as equipas, o árbitro Flávio Azevedo Duarte descortinou uma falta do capitão André Almeida, sobre Daniel dos Anjos. Não contrariado pelo VAR, a infração foi confirmada e o ponta de lança estabeleceu a reviravolta ainda antes do intervalo. O Académico entrava numa segunda metade, com um resultado que muito pouco tinha de justiça. Mas a força que pode nascer num grupo de Viriatos, ficou bem patente em tudo o que se passou nos segundos 45 minutos.
Sem grandes argumentos, a equipa da casa viu um Académico a entrar tímido, mas a crescer com o avançar da hora. Rodrigo Pereira, aos 63 minutos, ainda tirou tinta ao poste, após uma grande tabela com Christophe Nduwarugira. Mesmo que sem criar uma quantidade tão grande de oportunidades, se compararmos com a primeira metade do encontro, os visitantes abriam assim o apetite para o que aí vinha. Isto porque, à passagem do minuto 78, uma grande jogada no corredor esquerdo do ataque academista, entre Gautier e o recém-entrado Labila, provocou um desvio do defesa Ba para dentro da própria baliza. Assim se consumava o mais que merecido empate com que terminaria o jogo.
O ritmo baixou e os valentes viriatos não tiveram, infelizmente, possibilidades para alcançar os primeiros três pontos da temporada. Ainda assim, fica na memória uma exibição consistente, com grande personalidade e resiliência, por parte dos comandados de Vítor Martins. A apreciação global é positiva, entendendo também que, do outro lado, continuou a existir sempre um adversário com o seu valor.
Uma palavra especial para todos os academistas presentes em Tondela: deram, mais uma vez, uma prova de força, vitalidade e apoio deste que é e sempre será, o Maior clube da Beira.